terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

De quem é a culpa?

“Caríssimos irmãos e irmãs, em Cristo. Hoje trazemos um belíssimo artigo de nosso novo membro de Apostolado: Douglas. No artigo ele trata de questões bastante atuais da Liturgia, como, por exemplo, a não aceitação da Missa na Forma Ordinária pelos ditos ‘tradicionalistas’ (ML)”



Olhando para o mundo de hoje, qualquer ser humano de correta visão pode ver que estamos passando por uma crise na Igreja, afirmada - aliás - por diversos Papas.

Os ditos "tradicionalistas" se enganam e mostram uma falta de raciocínio e/ou conhecimento a respeito do Rito Romano e entram no absurdo equívoco de se revoltarem contra o Romano Pontífice dizendo que o Papa errou. Oras... o Papa é infalível, assim como o Magistério da Igreja.

Não faz sentido culpar o Rito do Santo Padre, o Papa Paulo VI, atual rito ordinário da Missa, pela bagunça feita por aqueles que deviam cumprí-lo, amá-lo e defendê-lo na alegria e na tristeza. Sinto informar, mas um padre que não cumpre a forma de Paulo VI e faz ali bagunça, também cometerá os mesmos erros se usar a forma de Pio V.

Então quem segue essa teoria absurda comete o mesmo erro, em substância, que aqueles a quem ele critica: o erro da desobediência. De não comungarem com o Romano Pontífice.

Estaria, por acaso, a Igreja dando de alimento a seus filhos um veneno como se fosse alimento? Obviamente que não. Simplesmente absurda esta idéia. Não existe Rito Mau aprovado pela Igreja, o que existem são homens pervertidos que pervertem a sacralidade da Liturgia para sua própria vontade.

A culpa em momento nenhum é do Concílio, estivesse quem estiver lá dentro, afinal é um Concílio aprovado pelo Papa, e Urbi Petrus, ibi Ecclesiae. Negar o Vaticano II é negar a infalibilidade papal, é negar portanto a assistência do Espírito Santo à Santa Igreja, é negar as palavras do próprio criador ao dizer: "Estarei convosco até o fim dos tempos"(1).

E essas palavras de nosso Redentor me confortam e por isso rogo a Deus que, por sua graça, eu morra católico.

Mas o que está acontecendo, afinal? Se a culpa não é do Concílio, a culpa é de quem?



O então Cardeal Ratzinger afirmara: "Estou convencido de que a crise da Igreja na qual hoje nos encontramos depende em grade parte do desmoronamento da liturgia"(2).

Ainda quando Cardeal, o nosso atual Papa comentava:"Depois do Concílio, muitos padres deliberadamente erigiram a dessacralização como um programa de ação, argumentado que o novo testamento aboliu o culto do templo; o véu do templo, que se rasgou de alto a baixo no momento da morte de Cristo sobra a cruz, seria, para alguns, o sinal do fim do sagrado. A morte de Jesus, fora dos muros da cidade, o que significa, no mudo profano, é hoje a verdadeira religião. A religião, se ela algum dia teve existência, deve encontrá-la no caráter não sagrado da vida cotidiana, no amor que se vive. Animados por tais idéias, eles rejeitaram as vestes sagradas; tanto quanto puderam, eles despojaram as igrejas dos seus resplendores que lembram o sagrado; e eles reduziram a liturgia à linguagem e aos gestos da vida de todos os dias, por meio de saudações, de sinais de amizade e outros elementos."(3)

O Papa Paulo VI, que viveu o turbilhão da crise, intitulava-a como sendo "a fumaça de Satanás no Templo de Deus".(4)

Em recente entrevista, o Cardeal Virgílio Noé, cerimoniário da Santa Sé, explicou que, com a expressão "fumaça de Satanás no templo de Deus", Paulo VI se referia aos abusos litúrgicos pós-conciliares(5): "Aqui, o Papa Montini por 'Satanás' queria classificar todos aqueles sacerdotes, bispos e cardeais que não redem culto ao Senhor ao celebrar mal a Santa Missa, devido uma errada interpretação e aplicação do Concílio Vaticano II. Falou de fumaça de Satanás, porque sustentava que aqueles sacerdotes que manipulavam a Santa Missa em nome da criatividade, em realidade estavam possuídos da vanglória e da sabedoria do Maligno. Portanto, a fumaça de Satanás não era outra coisa que a mentalidade queria distorcer as regras tradicionais e litúrgicas da cerimônia Eucarística.... Ele condenava o espírito de protagonismo e delírio de onipotência que se seguiram à liturgia do Concílio. A Missa é uma cerimônia sagrada, repetia frequentemente, tudo deve estar preparado e estudado adequadamente respeitando os cânones, ninguém é 'dominus' (Senhor) da Missa. Infelizmente, muitos depois do Vaticano II não o entenderam e Paulo VI considerava o fenômeno um ataque do demônio."(6)



Muitas vezes devido a tantos abusos, muitos se afastam - clérigos e leigos - da Verdade. Revoltados, pois, com os abusos cometidos, muitos colocam a culpa de tudo no Concílio. O Vaticano II não foi nenhuma "reunião inválida de homens velhos" nem tampouco "o Concílio mais importante, mais surpreendente", mas sim o vigésimo primeiro Concílio da Igreja. Antes dele tiveram 20 Concílios igualmente importantes e válidos. Não se pode olhar, portanto, para o Concílio com outra interpretação senão a hermenêutica da continuidade, ou seja, ele não veio rompendo com o passado glorioso e santificador da Igreja, gerador de tantos santos e santas que hoje veneramos, mas sim como uma evolução.

De fato, um leigo que não esteja acostumado, ao ver uma Missa celebrada corretamente em latim e ad orientem segundo o Rito Romano na forma de Paulo VI e na forma de Pio V (Missa Tridentina) dificilmente diferenciará uma forma de outra do rito. Não raramente ouvimos pessoas sem esclarecimento dizendo, referindo-se à forma de Pio V (extraordinária no Brasil, com excessão de Campos-RJ) como "Missa em Latim", como se o Novo Ordo não fosse em Latim.

O erro, portanto, está em não cumprir as normas estabelecidas pela Santa Sé, sobre o poder do próprio Cristo, Verdade e Vida e julgar-se dono da Liturgia por qualquer motivo que seja.



O Papa Pio XII nos adverte: "Erro perigosos estão, pois, aqueles que julgam poder unir-se a Cristo, cabeça da Igreja, sem aderirem fielmente ao seu Vigário na terra. Suprimida a cabeça visível e rompidos os vínculos visíveis da unidade, obscurecem e deformam de tal maneira o corpo místico do Redentor, que não pode ser visto nem encontrado por quem procura o porto da eterna salvação."(7)








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NOTAS:

(1) Mt(28,20).

(2) Joseph Ratzinger, La mia vita, San Paolo, pág. 112 e 113.

(3) Conferência aos Bispos chilenos, Santiago, 13 de julho de 1988.

(4) Paulo VI, alocução de 29 de junho de 1972.

(5) Que em nada tiveram sua culpa no próprio Concílio, mas na arrogância opulenta de vários sacerdotes que em nada entenderam o espírito do Concílio, mas antes tiveram dele uma hermenêutica de ruptura e não de continuidade. Descartaram a ação de Cristo na Igreja por mais de 400 anos (da forma antiga do rito) e durante 1970 anos de Igreja para seguir suas próprias cabeças passando a não ser os padres que deveriam ser. Outros tão errados quanto, acham que após o Vaticano II, Cristo passou a ser mentiroso e deixar de cumprir o que prometera e exponho na nota (1).

(6) Cardeal Virgílio Noé, mestre das celebrações litúrgicas de Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II - Entrevista a "Petrus", quotidiano on-line sobre Pontificado de Bento XVI, em 14 de maio de 2008

(7) Encíclica Mystici Corporis, n.40.